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sexta-feira, 29 de março de 2013

Melanie



Eu? Eu sou uma preta velha, sem muito estudo, mas procuro fazer da honestidade o meu caminho. Desde quando nasci já tinha meu destino traçado: trabalhar na casa de uma família branca, assim como minha mãe e minha avó. Trabalho desdes os 10 anos de idade, mas ainda sim tive sorte de poder frequentar a escola, mesmo que por pouco tempo, meu nome pelo menos eu sei escrever.

A família para a qual eu trabalho já estou nela há anos, desde 1941. Primeiro trabalhei pra família Robson, quando sua única filha casou-se, fui trabalhar na casa dela, que agora chama-se família Kennedy. Logo no primeiro ano a Sra. Kennedy engravidou, mas perdeu o neném num aborto espontâneo, foi muito triste, ela chorou por dias e dias, mas um ano depois ela consegui engravidar, e deu a luz a linda Melanie. Ela era a alegria da casa, os ares mudaram quando Melanie chegou. Como a Sra. Priscila, como eu a chamo, não tem muito jeito com crianças e muitos afazeres como um "dama da sociedade", sou e quem cuida da pequena Melanie.

Tentei ensinar a ela tudo o que sei da vida, e por mais que vivamos numa sociedade de valores tão deturpados, tentei ensiná-la tudo aprendi ao longo do tempo. E por isso Melanie sempre foi bem distinta das outras crianças. Sim ela tinha tudo que a sociedade diz que uma dama deve ter: ser bonita, saber bordar, tocar um instrumento musical, o qual ela exercia com excelência, entre outra coisas. Mas além disso, Melanie sempre tivera uma coisa que poucas meninas tem: opinião. E a defendia destemidamente, sempre muito questionadora, nunca entendeu o porquê desse diferença racial, e sempre tratou-me por igual, e chamava-me carinhosamente de Sasa. 

Sempre  soube que minha Melanie tornaria-se uma pessoa importante, e hoje ela é uma grande jornalista e escritora renomada, referência para muitos. Contrapondo-se as desigualdades e lutando por um mundo onde todos sejamos iguais. Acho difícil esse dia chegar, mas tenho fé que um dia possa ser assim. 

Essa foi a foto que levei quando parei de trabalhar com os Kennedys, a lembrança da mais doce criança que eu pude conhecer.

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